Sunday, December 10, 2006

Plínio Salgado - um pensador cristão


Por Fernando Rodrigues Batista


A tragédia de nossos dias é a mais angustiosa - afirmava o gênio elevado de Leonel Franca -, porquanto, segundo o mesmo autor, as almas nobres e reflexivas, mesmo as que, em momentos de exaltação entoam hinos de louvor à vida, acabam imergindo nas sombras de um pessimismo sem esperanças.
Em face das angústias de alhures até a hora presente, Schopenhauer talvez seja uma das impressões mais lancinantes de uma alma que desconhece seu destino; ou mesmo Nietzsche; ou Pirandello, quando é taxativo: "no ha la vita un fruto, Inutile miseria"; ou até mesmo Gabriel D'annuzio, ao externar melancólico: "diante de mim na sombra, está a morte sem flâmula. Eu morrerei em vão".
Que homem, digno deste nome, poderia se conformar com os dramas que marcam nosso tempo? Leon Bloy, Baudelaire, Bernanos, Chesterton, Pio XII, Marcel de Corte, Gustave Thibon, Plínio Salgado... Este fez de seu verbo inflamado a espada afiada contra as doutrinas deletérias; e vendo a mocidade sofrer o influxo da degradação de tais doutrinas, concitava-os ao que ele chamava de "Revolução Interior".
Depois do contato com as doutrinas materialistas e revolucionárias de Sorel, Marx, Trotski, Feuerbach, Plínio vai encontrar o clarão da fé nas palavras de fogo de Jackson de Figueiredo, e sobretudo na filosofia do cearense Farias Brito, este mestre que concorreu com seu esforço para pôr cobro a faina demolidora do materialismo e iniciar a grande obra reconstrutiva.
Farias Brito fora inconcussamente o grande precursor da renovação do pensamento que à época deste ilustre pensador predominava, vale dizer, o positivismo de Augusto Comte e o pragmatismo de Stuart Mill, tendo como representantes em nossa pátria, figuras do mais alto valor intelectual, tais como, Benjamim Constant; Teixeira Mendes; Miguel Couto; Tobias Barreto; Fausto Cardoso com seu haeckelianismo sociológico, entre outros. Cumpre ressaltar, que em França e Itália o papel de salvaguadar os valores espirituais em contrapartida ao dogmatismo materialista, era exercido por pensadores do estofo de um Boutroux - chamado pelo próprio Farias Brito de pensador valiosíssimo a todos os títulos - e de um Bergson; de um Spaventa e de um Benetto Croce – consoante ensinamento de Miguel Reale.
A síntese do pensamento de Plínio Salgado consiste no apelo do autor da "Vida de Jesus", à Revolução Interior, como já citado. À essa luz, de uma
feita, dizia Pèguy: "as verdadeiras revoluções consistem essencialmente em
mergulharmos nas inesgotáveis fontes da vida interior. Não são homens
superficiais que podem por em marcha tais revoluções - mas homens capazes de ver e de falar em profundidade". E Plínio era um desses homens, pois, - como afirma o historiador lusitano João Ameal - "no calor e no fervor de sua evocação parecia um contemporâneo de Cristo".
Em Portugal, na data da comemoração do Condestável, Nun'Alvares, Plínio proferiu linhas luminosas que expressam o que foi sua vida, de filósofo; de sociólogo; de político; de apóstolo:
"Ensinou-nos Nun'Alvares que o supremo destino da criatura humana está em Deus; que as riquezas mais ricas, e as glórias mais gloriosas, e o poder mais poderoso que seja, não passam de bens passageiros, que terminam bem depressa, cumprindo-nos, portanto, fazer deles instrumento de trabalho com que servir Aquele que constitui o Bem que não acaba. Lutar pela Pátria, lutar em prol da comunidade, infatigavelmente, é digno e belo; mas fazer dessa mesma luta o cilício de nossa lama, o meio de santificação, é ainda mais belo. Porque existe, além das muitas formas de santidade, uma que poderemos chamar "santidade política", e essa conhecem os que sofreram, pela felicidade publica, os agravos do tempo e as injúrias dos homens, que afinal são também, uns e outros, passageiros como os bens, já que tudo passa na terra e eterno no Céu".
Malgrado todos os sofismas que norteiam sua vida e sua obra, diante das paisagens e escombros se levanta sua mensagem indelével como anunciação promissora. Cheio de fé em nossa destinação histórica, Plínio, parafraseava Camões: "Depois de procelosa tempestade, noturna treva e silibante vento, traz a manhã serena, claridade, esperança de porto e salvamento".
Em uma das peças de Gil Vicente, surge um Cruzado e, então, é dito que o Cruzado vai direto para o céu, porque se bateu por uma Boa Causa.
Plínio foi um dos grandes Cruzados, com que o Século XX nos galardoou,
pensador exímio, defendeu seu pensamento com intrepidez, não obstante
possuísse uma alma franciscana, porquanto, Plínio foi um desses homens, que merecem a sentença de Dante Aliguieri - autor da Divina Comédia - para quem, mais alto que o entendimento, o Amor se levanta, - o Amor que faz mover "il sole e I'altre stelle" e pelo qual o nosso destino terrestre consegue sair triunfante dos combates terríveis da Alma e do Mundo.

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