Saturday, January 22, 2011

Plínio Salgado, Bandeirante da Fé e do Império

Por Victor Emanuel Vilela Barbuy



Plínio Salgado é, antes e acima de tudo, um Apóstolo de Cristianismo e de Brasilidade, um arauto da Tradição Cristã e da Tradição Nacional Brasileira. Descendente do Bandeirante Manuel Preto, o herói de Guairá, aliás por ele retratado no poema-épico em prosa A voz do Oeste (1934), que inspirou Juscelino Kubitschek a edificar Brasília [1], foi, ele próprio, um Bandeirante, dilatando a Fé e o Império por todos os lugares onde passou. Este “Cavaleiro do Brasil Integral”, na expressão do poeta Ribeiro Couto [2], e “Cavaleiro do verbo claro e ardente”, no dizer do Padre Moreira das Neves [3], sempre foi, como ressalta Francisco Martins de Souza, o herdeiro do tradicionalismo católico no sentido que a este imprimiu Jackson de Figueiredo [4].

Jackson de Figueiredo, porém, foi crítico ferrenho de Portugal e de sua herança, como bem observou, com tristeza, António Sardinha [5], que, no entanto, jamais deixou de ser amigo do autor de O nacionalismo na hora presente, em quem reconheceu um “irmão na mesma dupla fé religiosa e tradicionalista” [6] e a quem dedicou o ensaio A lição do Brasil, escrito em 1923 [7]. Já Plínio Salgado sempre admirou profundamente Portugal, o Grande Império de que nasceu o nosso Império, bem como o seu legado, de que somos herdeiros e depositários. Em sua obra histórica Como nasceram as cidades do Brasil, por exemplo, Plínio faz a apologia da força aglutinadora dos Brasileiros, que se revela na “construção maravilhosa da Unidade Nacional”, e que se constitui na “grande tradição, pelos Brasileiros herdada dos Portugueses”, no “gênio lusíada”, no “espírito dos fundadores de um grande Império, cujo segredo se encontra nas raízes romanas e cristãs de que provém” [8].

A supracitada obra de Plínio Salgado, que mereceu entusiásticos elogios de intelectuais da estatura dos Portugueses João Ameal [9] e Henrique Barrilaro Ruas [10] e dos Brasileiros Tasso da Silveira [11] e Euro Brandão [12], foi, com efeito, dedicada:

“À Nação Portuguesa, em homenagem aos antepassados comuns que construíram a minha Pátria, deram-lhe uma nobre língua e uma gloriosa tradição e animaram-na, por todo o sempre, com a alma religiosa que a integra na família lusíada das cinco partes do mundo e na comunhão universal do Cristianismo” [13].

Em Nosso Brasil, Plínio Salgado preleciona que a nossa História, “como continuidade da vida de uma das mais cavalheirescas nações europeias”, não principia em 1500, mas sim no momento da fundação da Nação Portuguesa e que todas as glórias de Portugal até 1822 são patrimônio comum a todos os descendentes dos bravos cavaleiros da Reconquista e das Cruzadas, dos grandes cientistas que desenvolveram a arte da navegação, dos nautas que enfrentaram e venceram os mares ignotos, “dos descobridores do caminho das Índias, dos soldados, marujos, escritores e poetas, que foram os primeiros europeus a atingirem a costa oriental da África, os extremos da Ásia e as ilhas misteriosas do Pacífico” [14].

Como sustenta o pensador patrício, “essa tradição de inteligência, de coragem, de universalismo, de sonhos grandiosos e de fé sequiosa por dilatar o Reino do Cristo, continuou no Brasil, plasmando o caráter, a consciência dos Brasileiros. O desbravamento dos nossos sertões pelos Bandeirantes, a reconquista do solo pátrio ocupado pelos Holandeses e pelos Franceses, a evangelização levada às tabas selvagens, o cruzamento das raças americana, africana e europeia, sob a inspiração da igualdade humana perante Deus, tudo isso foi continuação de uma história que principiou quando D. Afonso Henriques, em 1140, desembainhando a sua espada ensinou-nos, por todo o sempre, que devemos bater-nos com ardor e denodo por Cristo e pela Nação” [15].

Plínio Salgado tinha, pois, como Arlindo Veiga dos Santos, plena consciência de que “o Presente que nega o Passado não terá futuro” [16] e de que “toda manobra contra a lusitanidade fundamental do Brasil destrói sua brasilidade” [17]. Daí ter sido Plínio Salgado e não Jackson de Figueiredo o primeiro a efetivamente compreender a Tradição Brasileira, como bem sustentou o jusfilósofo e pensador tradicionalista espanhol Francisco Elías de Tejada y Spínola [18]. Tejada, que, aliás, foi apresentado à inteligência nacional por Plínio Salgado, nas páginas de sua obra O ritmo da História [19], viu, com efeito, no autor da Vida de Jesus, um “profeta incandescente e sublime de seu povo”, “encarnação viva do Brasil melhor” [20].

Lídimo representante do tradicionalismo político, Plínio Salgado sustenta que o cultivo da Tradição é o único meio de impedir a descaracterização de uma Pátria, de sorte que “sem Tradição na há Pátria” [21]. E afirma, do mesmo modo, que “a ordem humana só pode repousar na ordem divina” [22], cujos fundamentos “estão na Doutrina Revelada” [23] e que “as soluções para todos os problemas econômicos e políticos, morais e estéticos, derivam, luminosas e puras, dos Evangelhos” [24].

Consciente de que a profunda crise atravessada pelo Mundo Ocidental é, antes de tudo, uma crise do Homem, sempre pregou Plínio a restauração do Homem, a reconstrução do Homem, por ele considerada “a grande Cruzada dos tempos modernos” [25]. Tal seria, para o autor de Psicologia da Revolução, o primeiro e mais decisivo passo para a cura da terrível enfermidade que ataca nossa Sociedade. Jamais deixou ele, ademais, de proclamar a imperiosa necessidade da "salvação do Mundo pela santificação das almas", afirmando que "não é digno de lutar pelo Cristo quem não erguer a bandeira da própria santificação" [26] e proclamando a exaltação da realeza de Cristo [27]. Consciente, como São Pio X, da importância da proposição de São Paulo, na Epístola aos Efésios, de “restaurar tudo em Cristo” (Ef. 1, 10), programa, aliás, do Pontificado daquele grande Papa, Plínio Salgado fez dela também o seu programa e, em face do lema maurrasiano Politique d’abord lançou o lema Christ d’abord, Primeiro, Cristo [28].

O tão nobre quanto injustiçado Movimento Cívico-Político-Social legado por Plínio Salgado, o Integralismo, se configura como o mais autêntico Movimento de Renovação Nacional, Espiritual e Social do Brasil, se constituindo, antes e acima de tudo, em uma escola de Ética, Moralidade, Civismo, Patriotismo e Nacionalismo, responsável pela formação de uma verdadeira e autêntica Elite Nacional, Elite esta não de caráter econômico, mas sim de natureza espiritual, ética, moral e intelectual, recrutada em todos os segmentos da Sociedade e forjada pelo combate, pela labuta, pelo esforço e pelo sacrifício.

Atalaia e Cidadela do Brasil Profundo, Autêntico e Verdadeiro e de suas lídimas tradições, o Integralismo sempre pugnou pela recristianização integral do Brasil, opondo, à supremacia do ouro, a Supremacia dos valores espirituais, éticos, morais e intelectuais; à luta de classes da pseudocivilização burguesa, a Harmonia e a Justiça Social; à luta de raças, a Harmonia Étnica; à liberal-democracia burguesa e às tiranias de todos os feitios, a Democracia Orgânica, ou Democracia Integral; ao individualismo liberal e ao coletivismo comunista, o corporativismo, que vem a ser, em todos os tempos, expressão da organização natural e espontânea da Sociedade; ao Estado fraco do liberalismo e ao Estado Totalítário dos regimes coletivistas, o Estado Integral, que não é senão o Estado Necessário; aos mitos e superstições do Mundo Moderno, as verdades perenes da Tradição; às vãs filosofias do tempo, a Filosofia Perene; ao falso jusnaturalismo racionalista e abstrato do “Iluminismo” e ao positivismo jurídico, a sã e vigorosa Doutrina do Direito Natural Tradicional, ou Clássico, fundado na tradição formada pelos filósofos gregos, pelos jurisconsultos romanos e pelos teólogos e canonistas da Cristandade; ao internacionalismo do liberalismo e do comunismo e ao nacionalismo exacerbado, destrutivo e agressivo de certos credos totalitários, o nacionalismo sadio, justo, equilibrado e construtivo, alicerçado na Tradição e tendente ao universalismo; ao Espírito Burguês, o Espírito Cristão, a que também podemos denominar Espírito Nobre, ou Espírito da Nobreza, entendida esta não como classe, mas sim como um estado de espírito.

Em seu célebre discurso intitulado Cristo e o Estado Integral, Plínio Salgado ressalta que o “Estado Integral” é essencialmente “o Estado que vem de Cristo, inspira-se em Cristo, age por Cristo e vai para Cristo” e proclama sua crença em “Deus Eterno”, na “Alma Imortal”, em seu “poder optativo, deliberativo” e em sua ”capacidade de interferência nos fatos históricos, levantando as multidões e conduzindo-as”, bem como em “Cristo e na luz que d’Ele desce”. Sublinha, ademais, que fora por Cristo que se levantara; por Cristo que queria um “grande Brasil”; por Cristo que ensinava “a doutrina da solidariedade humana e da harmonia social”; por Cristo que lutava; por Cristo que conclamava aos integralistas e os conduzia; por Cristo que batalharia [29].

Toda a vida de Plínio Salgado foi, com efeito, dedicada à luta por Cristo. Consoante salienta João Ameal, em percucientes palavras que fazemos nossas:

“Plínio Salgado escreve, fala, apostoliza sob a luz perene da obediência a Cristo; os argumentos que emprega, são colhidos nas divinas palavras; as imagens que levanta, são sugeridas pelas divinas lições, os apelos que lança, são o eco dos divinos apelos e todo o seu programa é reimplantar na consciência dos contemporâneos a figura excelsa do Filho de Deus e incitá-los a que O tomem por modelo e saibam voltar ao integral cumprimento da Sua Lei.

“Porque assim é; e porque, ao serviço de Cristo, Plínio Salgado usa as armas mais eficientes e mais atuais, desenvolve a mais persuasiva (direi até: a mais imperiosa) dialética; e porque, no seu verbo de fogo, existe uma espécie de contagioso ardor que provoca, em redor, benéfica e revolucionária efervescência – deixou entre nós tão funda esteira e continuamos a senti-lo ao nosso lado quando, já de longe, nos manda novas páginas cheias de iguais exortações. A sua batalha é a nossa: batalha sem fim pela salvação dos homens, chamei-lhe um dia. Batalha sem fim – e que, todavia, tende a colocar-nos, permanentemente, diante da segura primazia do Fim Último” [30].

Plínio Salgado sempre sustentou que o Brasil é, por sua natureza, um Grande Império, e pela dilatação deste Grande Império sempre pelejou. No célebre discurso por ele proferido na Câmara dos Deputados, em Comemoração ao Dia de Ação de Graças, em 1961, agradece a Deus por nos haver feito compreender que a sua Santa Cruz deve andar, deve navegar, deve “ir de país em país, dilatando a fé e o Império – a fé em Cristo e o Império de Sua Lei -” e também por haverem nossos antepassados, os Bandeirantes, “com rudes botas, chapelões desabados e facão à cinta, dilatado este imenso Império e nos legado este vasto patrimônio territorial” [31].

Infelizmente não dispomos de tempo e nem de espaço para cuidar, aqui, da concepção de Império no pensamento de Plínio Salgado, já, aliás, magistralmente analisada por Ronaldo Poletti, Professor da Faculdade de Direito da Universidade Nacional de Brasília, em tese de doutoramento sobre o Conceito jurídico de Império recentemente publicada sob a forma de livro [32]. Consideramos, pois, oportuno encerrar, por aqui, a presente homenagem ao magno vulto do pensamento tradicionalista, patriótico e nacionalista que é Plínio Salgado, rogando a Deus, Princípio e Fim Último de todas as coisas, que nos auxilie em nossa duríssima missão de tirar o nome de Plínio Salgado do olvido do Povo Brasileiro e de fazer a verdade sobre ele triunfar, límpida e cristalina, contra todas as mentiras e calúnias que contra ele lançam os inimigos de Deus e da Pátria.

Sejam estas palavras, tão sinceras quanto singelas, a nossa humilde homenagem a Plínio Salgado, encarnação viva do Espírito Bandeirante, Bandeirante da Fé e do Império, cujo luminoso pensamento nos dá a coragem, a tenacidade e o alento necessários para seguirmos em frente, na tão árdua quanto nobre missão de legar a nossos descendentes um Brasil Maior do que aquele que recebemos de nossos genitores e plenamente salvo dos erros da pseudocivilização burguesa. Que o imortal autor da monumental Vida de Jesus, “joia de uma literatura”, na feliz expressão do Padre Leonel Franca [33], nos inspire, bem como todos aqueles que viveram e morreram em prol da dilatação da Fé e do Império e da edificação e defesa deste vasto Império da Terra de Santa Cruz/Brasil, em nosso bom combate pelo despertamento das forças tradicionais que se encontram adormecidas no seio deste Grande Império do Ontem e do Amanhã e que, quando despertas, mudarão para sempre a História do Mundo.



São Paulo do Campo de Piratininga, 22 de janeiro de 2011-LXXVIII.



Notas:

[1] KUBITSCHEK, Juscelino. Carta a Plínio Salgado. In Vários. Plínio Salgado: in memoriam. Vol. I. São Paulo: Voz do Oeste, 1985, p. 223.

[2] COUTO, Ribeiro. Plínio Salgado, cavaleiro do Brasil Integral. In Sei que vou por aqui!, ano 1, n. 2, São Paulo, setembro-dezembro de 2004, pp. XVII-XVIII. O artigo foi originalmente publicado no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, a 20/7/1933.

[3] NEVES, Moreira das. Cavaleiro do Verbo: à memória de Plínio Salgado. In Vários. Plínio Salgado: in memoriam. Vol. II. São Paulo: Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1985/1986, p. 9.

[4] SOUZA, Francisco Martins de. Raízes teóricas do corporativismo brasileiro. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1999, p. 28.

[5] SARDINHA, António. A aliança peninsular. 3ª ed. Lisboa: qp, 1975, p. 348.

[6] Idem, loc. cit.

[7] Idem. A prol do comum. Lisboa: Editora Livraria Ferin, 1934, pp. 121-181.

[8] SALGADO, Plínio. Como nasceram as cidades do Brasil. 5ª ed. (em verdade 6ª). São Paulo/Brasília: Voz do Oeste/Instituto Nacional do Livro, 1978, p. 20.

[9] AMEAL, João. Plínio Salgado ou a nova luta por Cristo. In Vários. Plínio Salgado: in memoriam. vol. II, cit., pp. 127-134. O artigo foi publicado originalmente na revista de cultura portuguesa Rumo, ano I, n° 6, pp. 278 e ss.

[10] RUAS, Henrique Barrilaro. Plínio Salgado, historiador, visto por um português. In Vários. Plínio Salgado: in memoriam. Vol. II, cit., pp. 71-80.

[11] SILVEIRA, Tasso da. Um livro de Plínio Salgado. In SALGADO, Plínio. Como nasceram as cidades do Brasil, cit., pp. 191-195. Artigo originalmente publicado no semanário Idade Nova, do Rio de Janeiro, a 27/10/1946.

[12] BRANDÃO, Euro. Prefácio.  In SALGADO, Plínio. Como nasceram as cidades do Brasil, cit., pp. XI-XIV.

[13] SALGADO, Plínio. Como nasceram as cidades do Brasil, cit., p. 3.

[14] Idem. Nosso Brasil. 3ª ed. In Idem. Obras completas. 2ª ed., vol. 4. São Paulo: Editora das Américas, 1957, pp. 189-290.

[15] Idem, pp. 290-291.

[16] SANTOS, Arlindo Veiga dos. Ideias que marcham no silêncio. São Paulo: Pátria-Nova, 1962, p. 76.

[17] Idem, loc. cit., p. 81.

[18] TEJADA, Francisco Elías de. Plínio Salgado na Tradição do Brasil. In VÁRIOS. Plínio Salgado, in memoriam. Vol. II, cit., p. 70.

[19] SALGADO, Plínio. O ritmo da História. 3ª ed. (em verdade 4ª). São Paulo/Brasília: Voz do Oeste/Instituto Nacional do Livro, 1978, pp. 191-220.

[20] TEJADA, Francisco Elías de. Plínio Salgado na Tradição do Brasil, cit., p. 47.

[21] SALGADO, Plínio. Nosso Brasil, cit., pp. 292-293.

[22] Idem. O dia do Papa. In Idem. Primeiro, Cristo!. 4ª ed. (em verdade 5ª). São Paulo/Brasília: Editora Voz do Oeste/Instituto Nacional do Livro, 1979, p. 57.

[23] Idem, p. 65.

[24] Idem. Princípios cristãos para o estudo da Sociologia. In Idem. Obras completas. 2ª ed., vol. 19. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 349.

[25] Idem. Reconstrução do Homem. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, s/d, p. 16.

[26] Idem. Primeiro, Cristo!., cit., pp. 53-54.

[27] Idem, pp. 26-27.

[28] Idem, pp. 16-17.

[29] Idem. O Integralismo perante a Nação. 3ª ed. In Idem. Obras Completas. 2ª ed., vol. 9. São Paulo: Editora das Américas, 1957, pp. 200-203.

[30] AMEAL, João. Plínio Salgado ou a nova luta por Cristo. In Vários. Plínio Salgado: in memoriam. vol. II, cit., p. 129.

[31] SALGADO, Plínio. Discurso em comemoração do Dia de Ação de Graças. Análise do Homem, da Ciência e do Mundo Contemporâneo (30/11/1961). In Idem. Discursos parlamentares. Sel. e intr. de Gumercindo Rocha Dorea. Brasília: Câmara dos Deputados, 1982, p. 49.

[32] POLETTI, Ronaldo Rebello de Britto. Conceito jurídico de Império. 1ª ed. Brasília: Editora Consulex, 2009, pp. 284-290.

[33] FRANCA, Leonel. Carta a Plínio Salgado. In SALGADO, Plínio. Vida de Jesus. 22ª ed. São Paulo: Voz do Oeste, 1985, pp. IX/XI

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Saturday, January 01, 2011

Mensagem de Natal e Ano Novo

Uma vez mais nos cabe a honra e a satisfação de vos falar no umbral de um novo Natal e de um Ano Novo, ano este que estamos certos de que será, a exemplo do ano que ora termina, de grande progresso para o nosso Movimento, a despeito, é claro, das vicissitudes inerentes à marcha de qualquer Movimento que afirme o Primado do Espírito em uma época dominada pelo mais avassalador materialismo; que sustente que o Estado, a Economia, o Direito e a Política ajam conforme a Moral e a Ética e sejam transcendidos por elas em um tempo em que tudo está divorciado dos princípios morais e éticos; que encarne o Espírito da Nobreza em uma era que vive sob o signo do Espírito Burguês e que defenda a Tradição em um Mundo governado pelas forças da antitradição.
Desejamos a todos um feliz e santo Natal e um igualmente feliz e santo Ano Novo. E esperamos que vos lembreis, não somente no dia de Natal, mas em todos os dias de vossas vidas a partir de hoje, de Cristo, de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei e Soberano do Universo, princípio e fim de todas as coisas e Mestre de todos nós.
É por Cristo que nos levantamos neste grande, nobre e belo Movimento em defesa do Brasil Profundo e de suas mais lídimas tradições, sob o lema, elevado como nenhum outro, “Deus, Pátria e Família”. É por Cristo que nos irmanamos em torno da bandeira azul e branca do Sigma, Sigma que é, com efeito, o símbolo pelo qual os primeiros cristãos gregos identificavam SOTEROS, o Salvador, que não é senão, como bem sabeis, o Nosso Senhor Jesus Cristo. É por Cristo, ainda, que pugnamos pelo Solidarismo Cristão, pregando e praticando a Caridade, a Solidariedade, a Harmonia e a Cooperação entre as Pessoas das diferentes classes sociais, bem como a Justiça Social e o fim do iníquo sistema que separou a Economia da Ética e transformou o Trabalho e a Propriedade em simples mercadorias regidas pela lei da oferta e da procura e o Mundo em um vasto mercado governado pelo dinheiro e pelo nefando poder deste e onde os Homens valem por aquilo que têm e não por aquilo que são. É por Cristo, ademais, que queremos instaurar uma Sociedade Orgânica e um Estado movido pela Ética e pela Ética transcendido. É por Cristo, enfim, que nos fazemos soldados, bandeirantes da Tradição e da verdadeira e autêntica Revolução, isto é, da Revolução entendida no mais rigoroso e próprio sentido do termo, isto é, compreendida como uma transmutação integral de valores no sentido de recondução do Homem e da Sociedade ao seu princípio, como reedificação do Homem e da Sociedade autênticos.
Nossa Revolução não é senão a Revolução proposta pelo Servo de Deus Fulton Sheen, isto é, “a verdadeira revolução”, “revolução de dentro para fora”, “revolução que mude os corações”, “revolução semelhante à que descreve o Magnificat, que foi mil vezes mais revolucionário do que o manifesto de Karl Marx, em 1848” [1]. Aliás, o Manifesto do Partido Comunista, de 1848, plágio descarado do Manifesto da democracia no século XIX, de Victor Considérant, nada tem de revolucionário no sentido tradicional do vocábulo, posto que não rompe com as ideias dominantes em seu tempo, tais como o materialismo, o economicismo e o mito do progresso ilimitado do Homem e da Sociedade. Com efeito, o marxismo é, no plano filosófico, um produto da denominada “esquerda hegeliana”; no campo econômico, filho, antes de tudo, do liberalismo inglês de Adam Smith e David Ricardo; no campo político, filho de Rousseau e dos socialistas franceses. Donde a afirmação, reconhecida por diversos marxistas, de que o pensamento de Marx deriva da filosofia alemã, da economia inglesa e da política francesa dominantes em sua época.
Em sua magnífica apresentação à conferência O Rei dos reis, de Plínio Salgado, o historiador e pensador tradicionalista português João Ameal recorda que, “no mais aceso do combate, uma voz poderosa” (a de Plínio Salgado) soara e “um aliado de vulto” (Plínio Salgado) “ocupara, entre nós, o seu posto de primeira linha” e que, ao ser publicada a Vida de Jesus, logo saudara ele “em Plínio Salgado um desses portadores de Verdade que, na hora própria, a Providência suscita”. Pouco adiante afirma o autor de No limiar da Idade-Nova que, na Vida de Jesus, “no fervor e no calor da sua evocação, Plínio Salgado parecia um contemporâneo de Cristo”, e não apenas parecia, mas o era de fato, pois “para ele, como para nós, Cristo está fora e acima do tempo” [2]. Em seguida, evocando a conferência de Plínio Salgado intitulada A aliança do sim e do não, assim aduz o mestre tradicionalista da História de Portugal e de Europa e seus fantasmas:
“’As verdadeiras revoluções’ – escreveu um dia Péguy – ‘consistem essencialmente em mergulharmos nas inesgotáveis fontes da vida interior. Não são os homens superficiais que podem pôr em marcha tais revoluções – mas os homens capazes de ver e de falar em profundidade’. Porque Plínio Salgado é desses homens capazes de ver e de falar em profundidade, porque não se queda nas aparências transitórias e vai direto ao essencial (só o essencial, aliás, o interessa) – respirava-se, à saída da sua conferência, por entre a banal algazarra da noite citadina, uma atmosfera que se poderia chamar, de fato, revolucionária, no sentido mais exato do termo revolução, que significava volta ao ponto de partida. Exortara-nos o orador a voltar ao ponto de partida, ao Senhor e Criador que está na origem de tudo e a quem devemos regressar com humilde e incondicional adesão se queremos merecer que nos ensine o Caminho, a Verdade e a Vida.
“Revolução prodigiosa. Revolução decisiva – a única decisiva! Como poderemos deixar de ser gratos ao grande camarada de armas que veio dar-lhe tão considerável impulso?” [3].
Estamos certos de que os elogios de Ameal a Plínio Salgado – que, aliás, estão presentes em outros trabalhos de sua lavra, a exemplo da conferência São Tomás e a Idade Nova [4] e do livro A Verdade é só uma [5] – chocarão muitos pseudo-tradicionalistas e mesmo alguns tradicionalistas sinceros, que, jamais havendo lido a obra de Plínio Salgado, a julgam ser praticamente o contrário daquilo que realmente é. Com efeito, Plínio Salgado, defensor do Syllabus e adversário do modernismo religioso [6], é um verdadeiro bandeirante da Fé e da Tradição, como foi amplamente reconhecido por grandes pensadores tradicionalistas e autoridades da Igreja d’aquém e d’além mar, de Hipólito Raposo a D. Manuel Gonçalves Cerejeira, Cardeal-Patriarca de Lisboa, de Fernando de Aguiar ao Padre Leonel Franca, de Alberto de Monsaraz ao Padre Moreira das Neves, do próprio João Ameal a D. Manuel Trindade Salgueiro, que entregou sua alma a Deus no cargo de Arcebispo de Évora, de Francisco Elías de Tejada ao Padre Domenico Mondrone...
Feito este breve parêntese, voltemos a tratar da verdadeira Revolução. Esta tem como objetivo a restauração do Homem e da Sociedade em Cristo e, por conseguinte, a restauração da Civilização Cristã e da realeza de Cristo. Assim, fazemos nossas as palavras de Plínio Salgado, quando este nobre Homem de pensamento e de ação, o primeiro, na opinião de Francisco Elías de Tejada, a efetivamente compreender a Tradição Brasileira [7], afirma, no encerramento de sua conferência Primeiro, Cristo!:
“Seja, pois, a exaltação da realeza de Cristo, o coroamento destas palavras. Eu a proclamo, do fundo da minha pequenez, com o ardor de um soldado. E como soldado vos convido ó homens do meu tempo, a aclamarmos o Cristo-Rei, por cujo Reino devemos ir à luta, uma luta diferente, porque não seremos portadores de morte, mas de vida; nem de aflições, mas de consolações, nem de crueza, mas de bondade” [8].
Do mesmo modo, afirmamos, também com o egrégio autor de A Tua Cruz, Senhor, que “a ordem humana só pode repousar na ordem divina” [9], cujos fundamentos “estão na Doutrina Revelada” [10] e que “as soluções para todos os problemas econômicos e políticos, morais e estéticos, derivam, luminosas e puras, dos Evangelhos” [11]. E, já nos havendo nos estendido por demais, finalizamos, ainda com palavras do Mestre da Vida de Jesus e de Psicologia da Revolução:
“Um filósofo francês [Charles Maurras] (...) lançou um slogan famoso: ‘politique d’abord’. Eis que chegado é o momento em que nós, católicos, devemos lançar outro, mais avançado e corajoso, dizendo: ‘Christ d’abord’. Sim; Jesus antes de tudo: o mais virá por acréscimo” [12].

Por Cristo e pelo Brasil!



Victor Emanuel Vilela Barbuy, Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira. São Paulo do Campo de Piratininga, 19 de dezembro de 2010.

Notas:



[1] SHEEN, Fulton J. Filosofias em luta. Trad. De Cypriano Amoroso Costa. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1946, p. 18.
[2] AMEAL, João. Apresentação. In SALGADO, Plínio. O Rei dos reis. 5ª ed. (em verdade 6ª). In Idem. Primeiro Cristo!. 4ª ed. (em verdade 5ª). São Paulo/Brasília: Editora Voz do Oeste/Instituto Nacional do Livro, 1979, p. 93.
[3] Idem, p. 94.
[4] Idem. São Tomás e a Idade Nova. In Idem. São Tomás de Aquino: iniciação ao estudo de sua figura e de sua obra. 3ª ed., rev. e acresc. com novos apêndices e um quadro biobliográfico. Porto: Livraria Tavares Martins, 1947, pp. 512-513.
[5] Idem. A Verdade é só uma. Porto: Livraria Tavares Martins, 1960, pp. 41-53.
[6] As críticas de Plínio Salgado ao modernismo religioso e sua defesa do Syllabus põem ser encontradas na obra A aliança do sim e do não (SALGADO, Plínio. A aliança do sim e do não. 4ª ed. In Idem. Obras completas. 2ª ed., vol. 6º. São Paulo: Editora das Américas, 1957, pp. 7-105) e em Pio IX e seu tempo (Idem. Pio IX e seu tempo (Prefácio à obra de Villefranche – Pio IX – publicada em 1948 pela Cia. Editora Panorama – S. Paulo). In Idem. Obras Completas. 2ª ed., vol. 11. São Paulo: Editora das Américas, 1957, pp. 359-477).
[7] TEJADA, Francisco Elías de. Plínio Salgado na Tradição do Brasil. Trad. De Gerardo Dantas Barreto. In VÁRIOS. Plínio Salgado, “in memoriam” (volume II – autores estrangeiros). São Paulo: Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 70.
[8] SALGADO, Plínio. Primeiro, Cristo!. 4ª ed. (em verdade 5ª). São Paulo/Brasília: Editora Voz do Oeste/Instituto Nacional do Livro, 1979, pp. 26-27.
[9] Idem. O dia do Papa. In Idem. Primeiro, Cristo!, cit., p. 57.
[10] Idem, p. 65.
[11] Idem. Princípios cristãos para o estudo da Sociologia. In Idem. Obras completas. 2ª ed., vol. 19. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 349.
[12] Idem. Primeiro, Cristo!, cit., pp. 16-17.