Sunday, December 10, 2006

Plínio Salgado lembrado por Juscelino Kubitschek


...O Brasil perde com a morte de Plinio Salgado um de seus nomes mais ilustres, aquele que representa na vida do país uma página admiravelmente gloriosa.
Romancista, sociólogo, pensador, parlamentar, homem de ação política, dele partiu a primeira voz que, de costas voltadas para o mar, anteviu a necessidade da integração nacional, indicando às gerações moças as veredas dos Bandeirantes, rumando para o Oeste.
Seu valor literário lhe concede a autêntica palma da imortalidade e sua “Vida de Jesus” o inscreve entre as maiores expressões da cristologia.
Sinceramente convencido das transformações políticas, defendeu suas idéias bravamente, vindo posteriormente a tornar-se um evangelizador que levou a todos os cantos da pátria uma mensagem de civismo.
Guardo de Plinio Salgado uma recordação indelével e tenho certeza de que sua memória jamais se misturará à poeira dos anos porque ele deixa uma obra consistente e definitiva.(...)
Resta-nos o consolo da certeza de que o seu nome vai perpetuar-se como um símbolo iluminando o futuro.

JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA, em carta a D. Carmela Patti Salgado, viúva de Plínio Salgado, a 18 de dezembro de 1975 (retirado de "Plinio Salgado: 'In Memoriam'" (volume I – autores brasileiros) – São Paulo: Voz do Oeste: Casa de Plinio Salgado, 1985, pág. 225).

Vox Dei - a um quinto evangelista


Pelo Conde de Monsaraz

Como é, Senhor, volvidos dois mil anos,
Que se ergue, assim, num século infernal,
Pregando o Amor e o Bem pelo ódio ao Mal,
Novo evangelho em novos meridianos?

Um homem, Plinio, nome de romanos,
Com raízes na selva equatorial,
Trouxe-o agora, em pacífico sinal,
Aos homens destes tempos desumanos.

Jesus chamou-o, como a João e a Pedro,
E disse-lhe: - “Onde em espírito não medro,
Vai, semeia a magnífica semente...

És meu discípulo hoje, nesta hora
Em que só não me ama é que não chora
“Faze que chore e que ame toda a gente!”

Cavaleiro do Verbo - à memória de Plínio Salgado


Pelo Pe. Moreira das Neves


Cavaleiro do verbo claro e ardente,
Sonhou, sofreu, viveu em pleno a vida.
Aprendeu, de menino, a olhar em frente,
Como Moisés, a Terra Prometida.
Paladino do Bem, continuamente
Fez da Palavra uma bandeira erguida.
Creu sempre que, lançada, uma semente
Jamais seria inútil e perdida.
Estranho a ódios, ignorando o medo,
Com Deus no coração, tinha o segredo
De o confessar em tudo o que fazia.
Soube amar o Brasil e Portugal
Com amor tão profundo e tão igual,
Que nunca, no seu peito os distinguia

Oitenta anos de "O estrangeiro"


Por Victor Emanuel [Vilela Barbuy]

Está passando em brancas nuvens o octogésimo aniversário da obra “O estrangeiro”, que abriu a trilogia de “Crônicas da vida brasileira”, configurou-se como um marco de renovação do romance neste País e fez de seu invulgar autor, Plínio Salgado, um romancista renomado e consagrado pela crítica.
No magnífico artigo que o Prof. Miguel Reale, de saudosa memória, publicou no jornal “O Estado de São Paulo” a 25 de fevereiro de 1995, ano em que era celebrado o centenário de Plínio Salgado, observou o grande filósofo, jurista e Imortal que “o silêncio da imprensa e de todos o meios de comunicação a respeito do centenário do nascimento de Plínio Salgado demonstra quanto pode a força do preconceito e notadamente do preconceito ideológico, capaz de obscurecer o real valor de nossos homens mais representativos. Porque Plínio Salgado, visto geralmente apenas sob o prisma da falsa ‘vulgata’integralista' disseminada por esquerdistas de todos os naipes, reuniu, como bem poucas personalidades, o que há de mais característico, positiva e negativamente, na cultura brasileira.”
O autor de “O Estado Moderno” e de “Pluralismo e liberdade”, fundador do Instituto Brasileiro de Filosofia e da “Revista brasileira de Filosofia”, criador da Teoria Tridimensional do Direito e idealizador do novo Código Civil brasileiro terminou o artigo observando que não alimentava a esperança de que seu pronunciamento pudesse fazer “justiça ao grande paulista e brasileiro que foi Plínio Salgado, pois só o tempo o fará; mas ele por certo pensava, como Siqueira Campos, que tanto admirava, que da Pátria nada se espera, nem mesmo compreensão.”
Tudo aquilo que disse o Prof. Reale lamentavelmente continua válido, explicando o criminoso silêncio da mídia em relação aos oitenta anos do nosso primeiro romance social em prosa modernista.
Em nosso País, cuja “intelligentsia” tende a perdoar todos os inumeráveis crimes da “esquerda”, ao mesmo tempo em que persegue inquisitorialmente todos aqueles que se batem contra o materialismo, difamando-os, caluniando-os e achincalhando-os, pouquíssimas são as pessoas sinceras que, quebrando as cadeias do preconceito ideológico, analisam Plínio Salgado e sua obra por aquilo que verdadeiramente são e não pela imagem deturpada que seus inimigos e os inconscientes e ignorantes a seu serviço criaram deles, fazendo-lhes, assim, justiça.
Parece-me, entretanto, que as coisas estão principiando a mudar, ainda que lentamente, de modo que creio na restauração da Verdade, na justíssima reabilitação do autor de “O estrangeiro”, “O esperado”, “O cavaleiro de Itararé”, “A voz do Oeste” e “Vida de Jesus”, cujo valor literário concede-lhe, como bem sublinhou ninguém menos que Juscelino Kubitschek, “a autêntica palma da imortalidade”.
A idéia de escrever “O estrangeiro”, que tivera sua gênese nas leituras de autores espiritualistas e tradicionalistas que haviam despertado em Plínio Salgado novas inquietações aparentemente adormecidas sob a leitura dos filósofos materialistas do séc. XIX, só tornou-se definitiva – como relatou o romancista em entrevista a Silveira Peixoto publicada em 1940 na primeira série da obra “Falam os escritores” – no decorrer de uma viagem que fez à zona Araraquarense, por volta de 1923, em companhia de Alarico Silveira, então Secretário do Interior de São Paulo.
O sucesso de “O estrangeiro” foi algo realmente extraordinário. A primeira edição esgotou-se em menos de três semanas e o burburinho que se fez em torno do romance, na imprensa nacional, foi espantoso e mostrou ao autor que ele havia acertado. Mas ele ignoraria tudo o quanto então se publicava a respeito dele e de sua revolucionária obra, se não fosse por seu amigo Fernando Callage, que colecionava todos os artigos, posto que naquela ocasião, na pequenina, bucólica e tradicional São Bento o Sapucaí, falecia a mãe de Plínio Salgado, que, estando já à beira da morte, tomou o livro do filho nas mãos, projetando lê-lo mais tarde, quando estivesse melhor, o que infelizmente não ocorreu...
Plínio Salgado é – em “O estrangeiro” e nos dois romances que lhe seguem e formam com ele a trilogia de “Crônicas da vida brasileira” – o genial cronista, intérprete de uma época de dúvidas e de incertezas que, imbuído dos ideais dos mais sadios patriotismo e nacionalismo e livre de todas as questões da forma e do estilo, revela-se um espectador e conhecedor de todas as correntes ideológicas e de todos os dramas das diferentes classes sociais. É, ademais, dotado de uma formidável capacidade de compreender e amar todos os antagonismos, bem como de alma para efetivamente sentir, sofrer e expressar, sem temor ao uso da palavra, todos os complexos estados de espírito nacionais.
Sua obra, na qual podemos sentir o cheiro de nossa terra, é ao mesmo tempo uma magistral exposição dos problemas que afligiam – e afligem – o Brasil e o seu povo, e uma profissão de fé do autor no futuro da Pátria.
Plínio Salgado, figura exponencial do Modernismo brasileiro, foi, como disse Augusta Garcia Rocha Dorea, o escritor que realizou totalmente o “espírito animador” da Semana de Arte Moderna, uma vez que pugnou pela nacionalização integral do Brasil “na literatura, no espírito e nos costumes do povo, na cultura e na política.”
O livro de Plínio Salgado é, antes de tudo, uma crônica das vidas paulista e brasileira entre princípios da década de 1910 e a época em que foi concluído, com a fixação de aspectos da vida rural, da vida provinciana e da vida na grande urbe (São Paulo).
O ciclo ascendente do colono é simbolizado pelos Mondolfis, italianos que chegam da Península sem mais do que algumas trouxas de roupa e em poucos anos, com o suor de seus rostos e uma certa dose de sorte – a geada que poupa os cafezais de Carmine Mondolfi, o patriarca da família, ao passo que devasta todos os outros da região – tornam-se milionários, com cafezais, indústrias, ações majoritárias de uma estrada de ferro, palacete na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, automóveis de luxo e título de “Cavaliere Ufficiale” para Carmine Mondolfi.
O ciclo descendente das tradicionais famílias quatrocentonas, por sua vez, é representado pelos Pantojos, que, grandes fazendeiros no interior, mudam-se para a Capital Paulista, onde vão residir num palacete no aristocrático bairro de Higienópolis, e, após vender a fazenda aos Mondolfis, acabam rapidamente dissipando toda a fortuna nos luxos e vícios da cosmopolita metrópole do café.
Zé Candinho, caboclo rijo e labutador, simboliza os novos bandeirantes, os brasileiros autênticos que, “fortes como fundadores de países”, marcham pelas veredas rumo ao Oeste, ao Sertão, como haviam feito seus antepassados.
Nhô Indalécio representa, ao contrário, os caboclos que não têm forças para lutar, para progredir, e de “olhos morteiros, toadas monótonas nos lábios”, sofrem pelas mãos dos poderosos, nacionais e estrangeiros, diante da completa omissão do Governo.
Juvêncio, o mestre-escola, é o patriota e nacionalista que leva a seus alunos – sejam eles filhos de italianos, espanhóis, portugueses, japoneses, sírios ou caboclinhos e mulatinhos – uma admirável mensagem de civismo, enquanto combate o cosmopolitismo com todas as suas forças. É ele quem estrangula os papagaios que haviam aprendido a cantar o hino fascista “Giovinezza” e outras italianidades e que tentara debalde curar no Sertão, num episódio em que Plínio Salgado manifesta claramente o seu entendimento de que as doutrinas alienígenas jamais seriam a solução para os problemas do Brasil.
Ivan, o russo que fora amigo de Górki e conspirara para matar o czar nos bairros escusos de Moscou, constitui o personagem central do livro. É, como diz o autor no prefácio onde é esquematizada sua obra, a “síntese de todos os personagens, consciência de todos os males”. Tendo enriquecido, tornando-se proprietário de uma fábrica no Brás, o russo, por outro lado, não conseguiu integrar-se ao Brasil – ao contrário dos Mondolfis e em que pese o esforço de Juvêncio – e não foi feliz no amor, de modo que termina por dar cabo da própria vida num ato trágico em que também são mortos todos os seus empregados.
Major Feliciano figura o charlatanismo da política dominante, constituindo o típico político profissional que age sempre em prol do interesse próprio e em detrimento do bem comum.
Eugênio Fortes, o poeta, representa o alheamento dos intelectuais em face da realidade e dos problemas de que padece nossa Sociedade.
O sempre rigoroso Agripino Grieco considerou “O estrangeiro” o melhor romance daquele ano de 1926 e afirmou que, “obra de desafogo mental, útil depoimento de um homem livre, ‘O estrangeiro’ é um livro fervilhante, pululante de idéias, é a obra de um literato que se completa no pensador, no historiador, no sociólogo. Obra panorâmica que faz ver o Brasil de hoje como uma carta em relevo."
Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima) também saudou “O estrangeiro” com entusiasmo, julgando-o “o romance mais dramático de nosso tempo.”
Jackson de Figueiredo analisou, em seu artigo intitulado “O Saci, o Avanhandava e o imperialismo pacífico”, aquela primeira obra romanesca de Plínio Salgado, terminando por observar que “’O estrangeiro’ é mesmo nos seus mais aflitivos e cruéis avisos, um livro de esperança e de fé.”
Monteiro Lobato escreveu, a respeito daquele romance ao mesmo tempo paulista e brasileiro, o texto “Forças novas”, em que, havendo reconhecido que “Plínio Salgado consegue o milagre de abarcar todo o fenômeno paulista, o mais complexo do Brasil, talvez um dos mais complexos do mundo, metendo-o num quadro panorâmico de pintor impressionista e observado que “todo o livro é uma inaudita riqueza de novidades bárbaras, sem metro, sem verniz, sem lixa acadêmica – só força, a força pura, ainda não enfiada em fios de cobre, das grandes cataratas brutas”, termina dizendo que “Plínio Salgado é uma força nova com a qual o país tem que contar.”
Cassiano Ricardo, por seu turno, afirmou que Plínio Salgado é “um brasileiro que conseguiu ‘viver’ o Brasil, penetrar os recantos úmidos da terra, fixar-lhe os aspectos mentais, ouvir o tropel da nação vindoura, adivinhá-la nas intenções mais obscuras de mundo virgem, plasmar o tumulto da cidade babélica" e é ainda "um Alencar corrigido por um Machado.”
Mário de Andrade também não poupou elogios a “O estrangeiro”, que saudou como o maior romance de sua geração.
Muitos anos mais tarde, Wilson Martins classificou “O estrangeiro” como o melhor romance escrito na década de 1920, ao lado de “O esperado”, também de Plínio Salgado.
Antônio Cândido já assumiu que gostava bastante dos romances de Plínio Salgado, de modo que estou certo de que ele só ainda não escreveu a respeito deles por temer a ira daqueles que ainda não se libertaram dos grilhões do preconceito ideológico.
Defenderam alguns, inclusive Miguel Reale, que “O estrangeiro” deveria ser tão lembrado quanto “A bagaceira”, romance de José Américo de Almeida, mas discordo deles, já que “A bagaceira”, como bem observaram Brito Broca, Augusta Garcia Rocha Dorea e outros, bastante fica a dever a seu modelo, que não foi outro senão “O estrangeiro” de Plínio Salgado.
Encerro aqui este singelo trabalho, na certeza de que cheguei ao menos perto de fazer justiça a um dos maiores e menos lembrados livros de nossa Literatura, bem como a um dos mais invulgares e esquecidos escritores pátrios, contribuindo, ainda que infimamente, para resgatar o prestígio de “O estrangeiro” e de seu autor, Plínio Salgado, “esse injustiçado”, como bem disse Pedro Paulo Filho, tendo derrubado algumas pedras do gigantesco e ignóbil muro do preconceito ideológico ainda tão forte em nosso País.

Uma singela homenagem a Plínio Salgado


Por Victor Emanuel [Vilela Barbuy]


Caso ainda estivesse entre nós, nosso Mestre Plínio Salgado completaria no dia de hoje (22 de janeiro de 2006) cento e onze anos de idade.
Nasce na bucólica e tradicional cidadezinha montanhesa de São Bento do Sapucaí (SP), na fronteira com Minas Gerais, e entrega sua alma àquele que dirige o destino dos povos e dos homens na Capital Paulista a 07/12/75, seguindo para a milícia do além.
Notável pensador, romancista, poeta, historiador, filósofo, sociólogo, orador, jornalista, crítico político e literário, professor, conferencista, parlamentar e líder político, Plínio Salgado é, antes de tudo, um grande cristão, patriota, nacionalista e democrata que combate – como nenhum outro em seu tempo – o nefasto materialismo, representado, de um lado, pelo capitalismo liberal excludente e, de outro, pelo bolchevismo sanguinário, escravizador e ateu, condenando, ademais, os totalitarismos de todos os matizes.
Havendo participado ativamente da Semana de Arte Moderna, ocorrida em 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, Plínio Salgado publica, em 1926, a magistral obra “O Estrangeiro”, primeiro romance social em prosa modernista de nossa Literatura, cuja primeira edição esgota-se em menos de três semanas e que é recebida com enorme entusiasmo por críticos do rigor de Agripino Grieco, que a considera o melhor romance daquele ano, e Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima), que afirma ser ela “o romance mais dramático de nosso tempo”; e por escritores como Monteiro Lobato, segundo o qual “Plínio Salgado é uma força nova com a qual o país tem que contar”, Cassiano Ricardo, que afirma ser Plínio “um Alencar corrigido por um Machado”, Mário de Andrade, que saúda a obra como a mais importante de sua geração, e Jackson de Figueiredo, para quem “O Estrangeiro” é “mesmo nos seus mais aflitivos e cruéis avisos, um livro de esperança e de fé”.
Em seguida a “O Estrangeiro”, Plínio Salgado publica “O Esperado”, sendo estas duas obras consideradas por Wilson Martins como os dois maiores romances escritos na década de 1920 (embora “O Esperado” só fosse publicado em 1931). Por fim, em 1933, é publicado “O Cavaleiro de Itararé”, que fecha com chave de ouro a monumental trilogia que o autor chama de “Crônicas da Vida Brasileira”.
Em 1934 é lançado o magnífico romance histórico “A Voz do Oeste”, que se passa no tempo dos bandeirantes, valoriza nossas origens indígenas e ibéricas e prepara a criação de Brasília, conclamando todos para “a marcha rumo Oeste”, como bem observa Juscelino Kubitschek de Oliveira, aliás grande amigo e admirador de Plínio Salgado, em carta enviada a este no ano de 1974.
Nos planos filosófico e político escreve Plínio Salgado grandes obras como “Psicologia da Revolução” (1934), “A Quarta Humanidade” (1934), “O Conceito Cristão da Democracia” (1945) e “Espírito da Burguesia” (1951).
Em “Psicologia da Revolução”, Plínio disserta sobre as três forças que conduzem a História: as leis da natureza, o livre arbítrio e o Providencialismo; e descreve magistralmente a revolução preconizada pelo Integralismo, revolução esta que principia pela chamada revolução interior, revolução das mentalidades, e termina com a revolução das instituições, com a implantação de uma verdadeira Democracia no País.
Já em “A Quarta Humanidade”, o homem que fundara a Ação Integralista Brasileira e que fundaria, após o fim do Estado Novo, o Partido de Representação Popular (PRP), afirma que a primeira Humanidade foi a Politeísta, a segunda a Monoteísta e a terceira é a Ateísta, após a qual virá a Humanidade Integralista.
"Depois da Humanidade Ateísta virá a Humanidade Integralista.
É a 'quarta humanidade'.
Como um sol que vai nascer, ela já projeta seus primeiros clarões.
Uma nova luz se anuncia no mundo.
É a Atlântida que resurge.
A nova civilização realizará a grande síntese.
Síntese filosófica. Síntese política. Mas, principalmente, síntese das Idades Humanas.
(...) aqui, no Brasil, o homem arguto, cheio dos instintos percucientes que herdou de seus próximos avós selvagens, o "homem telúrico" de Keyserling, plasmado dentro dos puros sentimentos espiritualistas e cristãos, desfralda a bandeira do Sigma. Essa bandeira afirma a suprema síntese e desdobra-se num largo sentido humano e universal."
Em “O Conceito Cristão da Democracia”, sublime conferência que Plínio Salgado realiza em Coimbra a 08 de dezembro de 1944 – glorioso dia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, excelsa Padroeira de Portugal e do Brasil – a convite do “Centro Acadêmico de Democracia Cristã”, são expostas as idéias que, durante quinze longos anos de vida pública, orientaram as diretrizes de seus escritos no concernente “aos limites e relações entre os conceitos de ‘autoridade’ e ‘liberdade’, limites cujos lineamentos configuram a verdadeira Democracia Cristã.”
Na obra “Espírito da Burguesia”, Plínio Salgado demonstra que a burguesia não é uma classe, mas sim um estado de espírito que se infiltra em todas as classes sociais e se caracteriza pelo comodismo, pela ostentação, pelo egoísmo e pela preocupação exclusiva pelos bens materiais. Foi desse tenebroso espírito, também chamado de burguesismo, que se originou e sempre se nutriu o comunismo, como ensina o Mestre de todos nós, de modo que a doutrina de Marx e Engels só pode ser eficientemente combatida por meio do combate sem tréguas ao espírito burguês.
Como historiador, Plínio também escreve diversas obras de inegável valor, dentre as quais destaca-se “O Ritmo da História” (1949), onde expõe de forma magistral a marcha dos homens e das nações, observando que quem examina “atentamente o panorama da História, desde os tempos primitivos aos dias que vivemos, notará que a longa crônica dos acontecimentos políticos universais obedece a um ritmo permanente de agregação e de desagregação, de soma e subtração, ora se exprimindo nos lineamentos dos grandes impérios, ora se manifestando no tumulto das mais variadas diferenciações de grupos humanos.”
Na apresentação que faz (na “orelha” do livro) para a 3ª edição de “O Ritmo da História”, Gumercindo Rocha Dorea escreve as seguintes linhas: “As páginas destinadas às novas gerações algum dia se converterão em luzeiros de esclarecimento e de orientação para que se consolide a estrutura de um Brasil mais consciente de seu destino, sobretudo quando elas – as novas gerações – se convencerem de que do Brasil poderá partir a palavra definitiva para a construção da Nova Humanidade, onde a dignidade do ser humano seja devidamente respeitada e onde a liberdade constitua o apanágio dos que lideram os povos dentro da noção máxima de responsabilidade.”
É ainda em “O Ritmo da História” que Plínio Salgado apresenta aos homens de pensamento da Nação a figura e o pensamento de Francisco Elías de Tejada Spínola, brilhante filósofo, historiador e professor de Filosofia do Direito que leciona, ao longo de sua vida, nas Universidades espanholas de Múrcia, Salamanca, Sevilha e Madri.
Em seu extraordinário texto intitulado “Plínio Salgado na Tradição do Brasil”, Francisco Elías de Tejada assim fala do criador do único movimento político-cultural autenticamente brasileiro e ibero-americano de toda a História: “Plinio Salgado, mal se trocavam idéias com ele, aparecia como o profeta incandescente e sublime de seu povo, como a encarnação viva do Brasil melhor. Daí que a sua figura seja inolvidável e me permaneça na memória com a graça de haver conhecido em sua pessoa um dos homens mais geniais com quem em minha vida haja eu deparado. Quem visse Plinio Salgado uma só vez que fosse, não poderia esquecê-lo nunca mais.”
Falemos, agora, do inspirado poeta que é Plínio Salgado. Seu primeiro livro, “Tabor” (1919), constitui, com efeito, uma obra poética. Mas sua maior obra neste gênero é, sem dúvida alguma, o “Poema da Fortaleza de Santa Cruz”, escrito enquanto se encontrava ali preso pela ditadura totalitarizante do Estado Novo de Getúlio Vargas, que o acusava, injustamente, de ser o líder da fracassada revolução que pretendia fazer cair por terra a tirania estadonovista e restaurar a Democracia em nossa Pátria e terminara no fracassado ataque de Belmiro Valverde ao Palácio Guanabara, onde derramam seu precioso sangue, como sabemos, vários jovens camisas-verdes.
É, todavia, no campo das biografias que encontramos aquela que consiste, sem sombra de dúvida, na mais admirável das obras de Plínio Salgado, sendo, como afirma Marco Maciel, no prefácio da 22ª edição brasileira deste livro, “não apenas um clássico da literatura brasileira”, mas sim “um clássico da literatura universal, uma vez que essa obra se coloca entre os livros de primeira grandeza escritos, até hoje, sobre a vida e doutrina do Mestre da Galiléia.
Não seria exagero afirmar-se que dificilmente se encontrará, sobre esse tema, uma obra que a supere em beleza literária, em fidelidade histórica e autenticidade cristã.”
Como o nobre leitor deve ter percebido, falamos da “Vida de Jesus”, “jóia de uma literatura”, no dizer de Padre Leonel Franca, que inscreve Plínio Salgado, segundo Juscelino Kubitschek, “entre as maiores expressões da cristologia”, fazendo dele, nas palavras do Conde de Monsaraz, proeminente integralista lusitano, no belíssimo poema intitulado “Vox Dei”, “um quinto evangelista”. Sobre esta obra afirma o Cardeal Cerejeira: “Falando da ‘Vida de Jesus’, queria confessar que é a mais bela de quantas tenho lido. Tão difícil de escrever, a ‘Vida de Jesus’ de Plínio Salgado é, de fato, a vida de Jesus feita com a inteligência, com a alma e com o coração todo.” A respeito deste mesmo livro, Padre Mondrone, célebre teólogo italiano, apresentando-o na tradução italiana, assim fala: “Esta vida revela a mão do artista autêntico da palavra. Plínio Salgado tem no seu estilo as melhores tradições da literatura portuguesa e a riqueza colorida e ardente do solo de seu País.”
Em 1948, Plínio Salgado participou - a convite de D. Ballester Nieto, Bispo de Vitória posteriormente falecido como Arcebispo de Santiago de Compostela - das Conversações Católicas Internacionais de San Sebastián, na Espanha, ali apresentando um estudo mais tarde publicado sob o título “Direitos e Deveres do Homem”. Foi vitoriosa, ademais, sua orientação no sentido de que o Homem não poderia deixar de ser definido, no anteprojeto de San Sebastián, como um ser feito à imagem e semelhança de Deus, possuindo uma alma espiritual e imortal, dotada de inteligência e livre arbítrio, e devendo encontrar na sociedade civil os meios de cumprir seus deveres e de exercer seus direitos correlativos, de acordo com as finalidades de sua natureza e sua vocação divina.
Candidato à Presidência da República pelo PRP em 1955, enfrentando Juscelino Kubitschek, Juarez Távora e Adhemar de Barros, Plínio Salgado, mesmo sem o apoio de nenhum grupo financeiro ou da máquina eleitoral de um Estado que fosse e diante das absurdas calúnias movidas contra sua pessoa pelos representantes da plutocracia reacionária e do bolchevismo totalitário desde os anos 30, obtém quase 800 mil votos (cerca de 08% do total), saindo-se, aliás, vencedor no Paraná, mesmo Paraná que o elege Deputado Federal em 1958. Mais tarde, se reelege Deputado por São Paulo por três mandatos até que, em 1974, resolve deixar “o lugar para os mais jovens”.
Sua ilustre carreira como tribuno parlamentar tem seu ponto pinacular a 10 de junho de 1965, dia em que o Congresso Nacional celebra o I Centenário da Batalha do Riachuelo e homenageia a Marinha de Guerra do Brasil e Plínio, como orador oficial, profere brilhante discurso lembrado pelo Deputado Oswaldo Zanello (ARENA-ES) na sessão solene realizada a 10 de março de 1976 em memória do ex-Deputado Federal Plínio Salgado, estando presente sua viúva, D. Carmela Patti Salgado, e sendo oradores da Sessão os Deputados Federais Oswaldo Zanello (ARENA-ES), Antônio Henrique Cunha Bueno (ARENA-SP) e Agostinho Rodrigues (ARENA-PR).
O magnífico discurso de Plínio Salgado por ocasião do I Centenário da Batalha do Riachuelo assim terminava:
“Ó marinheiros do Brasil! Soldados do Mar! Quando estive, por motivos políticos, preso na Fortaleza de Santa Cruz, eu escutava o vosso, o nosso mar bater nas pedras e entrar pelas casamatas com ribombos oceânicos.
O Conde de Lippe, nos fins do século XVIII, introduziu, com a reforma do exército português, um costume altamente significativo. Ali, naquela fortaleza, de hora em hora, um sentinela gritava: ‘Sentinela, alerta!’ E outro, nas sombras da noite, com a cabeça coroada pelas estrelas, respondia: ‘Alerta estou!’
Sejam estas palavras a minha suprema homenagem, no centenário da Batalha do Riachuelo, às Três Forças Armadas do Brasil, e, no particular, à nossa Marinha de Guerra, para que, gritando ‘Sentinela, alerta!’ cada brasileiro, em cada rincão de nossa Pátria, se sinta, pela defesa da liberdade, da democracia, da soberania, da honra e da dignidade do Brasil, com a responsabilidade de responder: ‘Alerta estou!’”
Antes de terminar este pequeno texto, mister se faz lembrar os dois mais famosos manifestos de autoria de Plínio Salgado. No primeiro deles, o Manifesto da Legião Revolucionária de São Paulo, de 1931, Plínio deixa bem claro que “não devemos transplantar para o Brasil, nem comunismo, nem fascismo, nem outros sistemas exóticos.” Já no segundo - o tão importante e hoje, lamentavelmente, pouco conhecido Manifesto de 07 Outubro de 1932 - são estabelecidas de maneira brilhante os fundamentos da Ação Integralista Brasileira, fundamentos originados, sobretudo, nos ensinamentos perenes do Evangelho, na Doutrina Social da Igreja e nos textos de autores como Alberto Torres, Farias Brito, Jackson de Figueiredo, Oliveira Vianna, Euclides da Cunha, Oliveira Lima, Tavares Bastos e Calógeras.
Cumpre sublinhar ainda que Plínio Salgado, ao contrário do que afirmam inúmeras pessoas mentirosas ou ignorantes, jamais foi um anti-semita, antes muito pelo contrário, havendo afirmado certa vez que “Não podemos querer hoje mal ao judeu, pelo fato de ser o principal detentor do ouro, portanto principal responsável pela balbúrdia econômico-financeira que atormenta os povos, especialmente os semicoloniais como nós, da América do Sul. O judeu-capitalista é igual ao cristão-capitalista. (...) Ambos não terão mais razão de ser porque a humanidade se libertará da escravidão dos juros e do latrocínio do jogo das Bolsas e das manobras banqueiristas. A animosidade contra os judeus é, além do mais, anticristã e, como tal, até condenada pelo próprio catolicismo. A guerra que se fez a essa raça na Alemanha, foi, nos seus exageros, inspirada pelo paganismo e pelo preconceito de raça. O problema do mundo é ético e não étnico."
Hoje, cento e onze anos após o nascimento de nosso Mestre e trinta anos após sua partida deste Mundo, vemos sua invulgar obra literária ser ocultada, sua igualmente valiosa obra filosófica e política e mesmo sua figura serem deturpadas e atacadas por pessoas que, nas mais das vezes, sequer as conhecem.
As perseguições e calúnias de que somos vítimas, por levar adiante os ensinamentos de Plínio Salgado, só não constituem exemplo único em toda a História porque podem ser comparadas àquelas de que foram vítimas Jesus Cristo e os primeiros cristãos.
Mas nos resta o consolo de saber que um dia a Verdade sobre Plínio Salgado será restaurada e de ter a certeza de que, como disse Juscelino Kubitschek, “seu nome vai perpetuar-se como um símbolo iluminando o futuro”.
Seja esta minha singela homenagem a Plínio Salgado, sobre quem Manoel Vítor - o renomado escritor, radialista, professor, conferencista, bacharel em Direito, parlamentar e pensador católico que dirigiu por quase quarenta anos o conhecido programa radiofônico “Hora da Ave Maria” - afirmou que “Se uma cabeça havia que centralizasse em si mesma o desejo de cimentar um círculo em torno da tríade – Deus, Pátria e Família, essa foi a desse pensador ilustre que arrebatava multidões na mocidade e serenava a ânsia dos intelectuais com o ouro de sua pena.”

Plínio Salgado - um pensador cristão


Por Fernando Rodrigues Batista


A tragédia de nossos dias é a mais angustiosa - afirmava o gênio elevado de Leonel Franca -, porquanto, segundo o mesmo autor, as almas nobres e reflexivas, mesmo as que, em momentos de exaltação entoam hinos de louvor à vida, acabam imergindo nas sombras de um pessimismo sem esperanças.
Em face das angústias de alhures até a hora presente, Schopenhauer talvez seja uma das impressões mais lancinantes de uma alma que desconhece seu destino; ou mesmo Nietzsche; ou Pirandello, quando é taxativo: "no ha la vita un fruto, Inutile miseria"; ou até mesmo Gabriel D'annuzio, ao externar melancólico: "diante de mim na sombra, está a morte sem flâmula. Eu morrerei em vão".
Que homem, digno deste nome, poderia se conformar com os dramas que marcam nosso tempo? Leon Bloy, Baudelaire, Bernanos, Chesterton, Pio XII, Marcel de Corte, Gustave Thibon, Plínio Salgado... Este fez de seu verbo inflamado a espada afiada contra as doutrinas deletérias; e vendo a mocidade sofrer o influxo da degradação de tais doutrinas, concitava-os ao que ele chamava de "Revolução Interior".
Depois do contato com as doutrinas materialistas e revolucionárias de Sorel, Marx, Trotski, Feuerbach, Plínio vai encontrar o clarão da fé nas palavras de fogo de Jackson de Figueiredo, e sobretudo na filosofia do cearense Farias Brito, este mestre que concorreu com seu esforço para pôr cobro a faina demolidora do materialismo e iniciar a grande obra reconstrutiva.
Farias Brito fora inconcussamente o grande precursor da renovação do pensamento que à época deste ilustre pensador predominava, vale dizer, o positivismo de Augusto Comte e o pragmatismo de Stuart Mill, tendo como representantes em nossa pátria, figuras do mais alto valor intelectual, tais como, Benjamim Constant; Teixeira Mendes; Miguel Couto; Tobias Barreto; Fausto Cardoso com seu haeckelianismo sociológico, entre outros. Cumpre ressaltar, que em França e Itália o papel de salvaguadar os valores espirituais em contrapartida ao dogmatismo materialista, era exercido por pensadores do estofo de um Boutroux - chamado pelo próprio Farias Brito de pensador valiosíssimo a todos os títulos - e de um Bergson; de um Spaventa e de um Benetto Croce – consoante ensinamento de Miguel Reale.
A síntese do pensamento de Plínio Salgado consiste no apelo do autor da "Vida de Jesus", à Revolução Interior, como já citado. À essa luz, de uma
feita, dizia Pèguy: "as verdadeiras revoluções consistem essencialmente em
mergulharmos nas inesgotáveis fontes da vida interior. Não são homens
superficiais que podem por em marcha tais revoluções - mas homens capazes de ver e de falar em profundidade". E Plínio era um desses homens, pois, - como afirma o historiador lusitano João Ameal - "no calor e no fervor de sua evocação parecia um contemporâneo de Cristo".
Em Portugal, na data da comemoração do Condestável, Nun'Alvares, Plínio proferiu linhas luminosas que expressam o que foi sua vida, de filósofo; de sociólogo; de político; de apóstolo:
"Ensinou-nos Nun'Alvares que o supremo destino da criatura humana está em Deus; que as riquezas mais ricas, e as glórias mais gloriosas, e o poder mais poderoso que seja, não passam de bens passageiros, que terminam bem depressa, cumprindo-nos, portanto, fazer deles instrumento de trabalho com que servir Aquele que constitui o Bem que não acaba. Lutar pela Pátria, lutar em prol da comunidade, infatigavelmente, é digno e belo; mas fazer dessa mesma luta o cilício de nossa lama, o meio de santificação, é ainda mais belo. Porque existe, além das muitas formas de santidade, uma que poderemos chamar "santidade política", e essa conhecem os que sofreram, pela felicidade publica, os agravos do tempo e as injúrias dos homens, que afinal são também, uns e outros, passageiros como os bens, já que tudo passa na terra e eterno no Céu".
Malgrado todos os sofismas que norteiam sua vida e sua obra, diante das paisagens e escombros se levanta sua mensagem indelével como anunciação promissora. Cheio de fé em nossa destinação histórica, Plínio, parafraseava Camões: "Depois de procelosa tempestade, noturna treva e silibante vento, traz a manhã serena, claridade, esperança de porto e salvamento".
Em uma das peças de Gil Vicente, surge um Cruzado e, então, é dito que o Cruzado vai direto para o céu, porque se bateu por uma Boa Causa.
Plínio foi um dos grandes Cruzados, com que o Século XX nos galardoou,
pensador exímio, defendeu seu pensamento com intrepidez, não obstante
possuísse uma alma franciscana, porquanto, Plínio foi um desses homens, que merecem a sentença de Dante Aliguieri - autor da Divina Comédia - para quem, mais alto que o entendimento, o Amor se levanta, - o Amor que faz mover "il sole e I'altre stelle" e pelo qual o nosso destino terrestre consegue sair triunfante dos combates terríveis da Alma e do Mundo.

Quem tem medo de Plínio Salgado?


GERARDO MELLO MOURÃO (1917-2007) foi poeta, escritor, presidente da Academia Brasileira de Filosofia e membro do Conselho Nacional de Política Cultural do Ministério da Cultura. Foi também professor de história e cultura da América na Universidade Católica do Chile (1964-67) e correspondente da Folha em Pequim (China) de 1980 a 82”.

Hélio Jaguaribe, que teve sempre a coragem e a lucidez de tocar a pele viva de todas as zonas da realidade brasileira, dizia, em seu trabalho “Idéias para a Filosofia no Brasil”, que “depois do integralismo seguiu-se o silêncio dos que são incapazes de emprestar um sentido geral e historicamente atualizado a suas aspirações de poder”.

Esse silêncio tenta estender sua cortina de chumbo e de cultivada estupidez não só sobre a obra política, mas também sobre a obra literária de Plínio Salgado. A tal ponto que neste ano em que se comemora o centenário de seu nascimento apenas algumas homenagens esparsas cuidaram de evocar seu nome e sua presença na história deste país.

Que se saiba, até aqui, o centenário de um homem que assinalou como um marco de pedra e como um signo de contradição a aventura do pensamento brasileiro foi celebrado apenas _o que não é pouco_ por um artigo de Miguel Reale, uma sessão na Academia Paulista de Letras e um comovido festival de encontros culturais em sua doce cidade natal de São Bento do Sapucaí (SP), que, parece, vai durar o ano inteiro.

Afinal, quem tem medo de Plínio Salgado? Jornalista militante era redator do “Correio Paulistano", de onde partiu para a literatura e para a política. Os desmemoriados se esquecem de que Plínio foi um dos protagonistas da Semana de Arte Moderna, cujos participantes, segundo lembra, “apontaram novos caminhos, libertações integrais, nacionalismo espontâneo”.

Ocupado com a política e as letras, era secretário da Coligação Paulista, presidida por Altino Arantes e, ao mesmo tempo, devorava a literatura mais avançada da Europa, lendo Marinetti e Soffici, Govoni, Apollinaire, Cocteau, Max Jacob e Cendrars, que alternava com a literatura revolucionária de Marx e Trotski, de Lênin e Sorel, de Plekhanov e Feuerbach. Foi deputado estadual, com estrondosa votação, acompanhando Júlio Prestes. Em 1926, publica o primeiro romance, “O Estrangeiro".

O romance trouxe um “frisson nouveau” às letras do país. Mário de Andrade o saudou como a obra mais importante de sua geração. Cassiano Ricardo disse do autor: “É um Alencar corrigido por um Machado”. Para Tristão de Athayde, era “o romance mais dramático de nosso tempo”.

Foi o primeiro livro de uma tetralogia, em que a genealogia das inquietações de São Paulo e do Brasil passou, com "O Esperado", "O Cavaleiro de Itararé" e "A Voz do Oeste", pelo proletariado do Brás, pelos últimos barões do café, pelo contraponto dos imigrantes italianos, pelos anarquistas românticos e os marxistas geométricos, como lembrou seu sucessor na Academia Paulista. Os heróis de Plínio, um apaixonado pela poesia de Eliot e de Auden, transitam do tempo dos bandeirantes ao dos bacharéis do antigo PRP e ao tempo futuro que fermentava nas esperanças de uma geração de fronteiras.

Plínio Salgado foi o profeta da geração de fronteiras a que pertencemos todos os que vieram do mundo criado entre a Primeira Guerra Mundial, entre o fascismo e o comunismo, até o crepúsculo wagneriano da Segunda Guerra. Neste país de "Phds de cacaracá"", ensurdecido pela "merdopéia" das ideologias e das covardias políticas, ainda não se fez o estudo que algumas universidades da Europa e dos EUA estão empreendendo sobre a obra de Salgado.

Como no refrão da elegia de Lorca, as pessoas, acuadas pelo patrulhamento stalinista, não querem ver a verdadeira face do velho que está fazendo cem anos. Foram buscar suas vertentes no fascismo ou no nazismo. Num samba do crioulo doido, confundem seu pensamento político com o anti-semitismo.

Vale a pena lembrar que a primeira denúncia brasileira contra o anti-semitismo e a perseguição aos judeus pelo menos a primeira denúncia de peso foi clamada por Plínio Salgado, quando advertiu que no movimento por ele fundado em 1932, o integralismo, ninguém ousaria uma palavra contra a raça a que pertencia a mãe de Jesus Cristo.

De resto, havia um grande número de judeus nas fileiras do integralismo, e eu mesmo me lembro com emoção e com saudade de um querido companheiro daqueles tempos, o brilhante e bravo judeu Aben-Atar Neto. E tantos outros. Mas isso é outra história.

É e não é. Porque no mesmo berimbau se tocou a cavatina das inspirações fascistas do Sr. Plínio Salgado. Na verdade, desde 1935, em pleno esplendor do fascismo e do nazismo, ele repeliu um sistema político em que a massa engendra um "führer", ou um "führer" engendra a massa, porque no primeiro caso, o que se engendra é um sapo, e no segundo, um monstro (sic).

Além de seus romances, deixou obras fundamentais, como "A Quarta Humanidade", "Psicologia da Revolução" e a monumental "Vida de Jesus". Em toda a sua obra, o que ele tenta pronunciar é a palavra brasileira. Não há como não lembrar aquele episódio patético de seu romance, em que Juvêncio, personagem que se confunde com o autor, estrangula e joga numa cachoeira um papagaio que só cantava a "Giovinezza" e não falava nossa língua.

Nem no nazismo nem no fascismo. O entendimento do Brasil, da reengenharia do país e de sua sociedade, ele o fundava em Euclides da Cunha, a quem Cassiano e Menotti del Picchia o comparavam, em Oliveira Viana, em Pandiá Calógeras, em Alberto Torres. Buscava na doutrina social da Igreja e na obra de Farias Brito a inspiração social e espiritual de seu pensamento.

Seria curioso fazer um inventário dos líderes políticos e dos intelectuais brasileiros que acompanharam Salgado. Dei-me um dia ao trabalho, junto com o mestre Luís da Câmara Cascudo e com o então senador José Guiomard: contamos três presidentes da República (pós-64) e 123 deputados e senadores. Escritores, professores, diplomatas, empresários e oficiais das Forças Armadas não dá para contar.

O presidente FHC e o ministro da Educação deviam instituir 1995 como o "ano Plínio Salgado". Ou será que também eles e o ministro da Cultura nunca terão lido o velho de São Bento de Sapucaí e os autores que ele ensinava Euclides, Oliveira Viana, Torres, Manuel Bonfim? Só quem não os leu é que pode ter medo de Plínio Salgado.